Auto-retrato em palavras
“Eu não sei dançar, cantar ou tocar instrumentos. Mas danço, canto e toco guitarras e baterias imaginárias mesmo assim.”
por Milly Lacombe


Não sei emitir nota fiscal, declarar imposto, fazer pagamentos pela internet, lembrar de senhas. Sinto tédio quando escuto as palavras cartório, junta comercial, reconhecimento de firma, autenticação, derivativo, superávit – especialmente o primário. Minhas especialidades envolvem qualidades pouco rentáveis (o que talvez explique o tédio por todas as palavras acima): adivinhar a hora, fazer baliza, saber o tamanho exato do recipiente para guardar o resto do jantar, lavar louça e deixar roupas com o cheirinho do amaciante. Sou um acidente geográfico: nasci no Rio com pele de cidadã norueguesa. Não gosto de praia, de areia, de calor, de água salgada. Nem de ficar melada, a não ser para ocasiões que exijam algum tipo de lubrificação e que não (necessariamente) envolvam praias. Acredito em reencarnação, no Corinthians, no Fluminense e em cafés da manhã. Como Nelson Rodrigues, sei que o sábado é uma ilusão, e é aos sábados que sou mais feliz. Não como berinjela nem em nome da paz mundial. Me emocionam Proust, Preciado, Clarice, Lorde, Eça, Machado, um gol do meu time aos 45 do segundo tempo, ou antes ou depois dos 45 a bem da verdade, e acordar ao lado da pessoa que amo. Tenho a ginga social de uma criança de cinco anos. Em festas, sou aquela que fica num canto deslocada. Por causa da deficiência social, não gosto de sair de casa. Mas saio quando é preciso. Por exemplo, para ir ao supermercado ou à livraria. De verdade mesmo, sei apenas escrever e amar. Exatamente como sugeriu Antonio Maria: escrever com dois dedos e amar com a vida inteira.

Biografia

Milly Lacombe nasceu no Rio de Janeiro em 1967 e mudou-se com a família para São Paulo em 1973. Desde cedo entendeu que gostava de escrever, de jogar futebol e, um pouco mais tarde, de se relacionar com mulheres. Cursou Rádio e TV em São Paulo e aos 27 anos se mudou para Santa Barbara, Califórnia, de onde trabalhou como colaboradora da Folha de S.Paulo, um dos maiores jornais do Brasil, cobrindo cinema.
Mudou-se para Los Angeles de onde cobriu os atentados das torres gêmeas. Depois de oito anos, voltou ao Brasil e foi trabalhar na redação da revista Trip, publicação voltada ao público jovem e que fala de comportamento, esportes e é renomada por publicar algumas das entrevistas mais relevantes já realizadas no mercado jornalístico brasileiro. Lacombe começou como colunista, passou a ser editora e depois diretora de redação. Em 2005 foi contratada pela Rede Globo de Televisão para ser a primeira comentarista de futebol do Brasil. Trabalhou no Sportv, do grupo Globo, comentando o campeonato brasileiro e depois de alguns anos foi contratada pela Rede Record de TV para comentar jogos da Liga dos Campeões da Europa. Por essa época lançou o livro “Segredo de uma Lésbica para Homens Heterossexuais”. Na sequência, lançou a biografia de Mara Gabrilli, primeira mulher tetraplégica a se eleger para o parlamento brasileiro e reuniu em um livro suas crônicas publicadas na revista TPM: "Tudo É Só Isso". Em 2013 foi morar em Nova York, de onde colaborou para jornais e revistas no Brasil. Voltou em 2015 e lançou o livro “O Ano em que Morri em Nova York”, cujos direitos foram vendidos para o cinema. Tem outros cinco livros escritos, entre eles "Feminismo Para Não Feministas", pela Planeta Editora. Foi roteirista dos programas "Amor&Sexo", "Bem Juntinhos" e "Super Bonita", todos do Grupo Globo.
Membro do comitê curatorial do Museu do Futebol em São Paulo.
Criou os cursos "Feminismo para Homens" e "Feminismo Como Potência de Vida". Ministrou oficinas de Escrita Criativa na Escola São Paulo e no Museu do Futebol com o objetivo de capacitar para a redação de textos na modalidade crônica esportiva.
Palestrante dos temas “gênero”, LGBTQIAPN+” e “Como o Futebol Explica a Vida”. Entre as palestras, uma sobre a importância dos conceitos do feminismo para que melhorar relacionamentos dentro de empresas de modo a fortalecer laços e também processos produtivos.
Cronista e Colunista
Desde 2021 assina coluna diária no UOL Esporte e também no Universa e nos demais canais do portal. Desde 2002 faz parte do time de colunistas das revistas Trip e Tpm, da qual foi também diretora de redação.
Roteirista
Foi chefe de redação do programa Bem Juntinhos, no GNT, roteirista e jurada do programa Amor e Sexo, na Globo, assinou redação final do Super Bonita, no GNT.
Futebol
Primeira mulher a ser comentarista de futebol na TV brasileira. Trabalhou no Sportv, no Esporte Espetacular (Globo), comentou Liga dos Campeões na Tv Record e foi gerente de conteúdo esportivo do Portal Terra. É colunista do UOL Esportes.
Jornalista
Folha de S.Paulo: colunista da seção Modern Love, cobertura do circuito de cinema de Hollywood e correspondente dos atentados terroristas do World Trade Center. Revista Tpm: colunista, editora e também diretora de redação. Revista Trip: reportagens e entrevistas. Marie Claire: editora de comportamento. Revista do Charlô: diretora de redação.
Contatos
Créditos Fotográficos
Julia Foroni
Daniela Toviansky